quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Tardígrado: o animal com superpoderes

Tardígrado visto sob um microscópio. (Créditos da imagem: Eye of Science/Science Source Images).
O animal mais resistente do planeta Terra é microscópico. Ele tem apenas meio milímetro de comprimento e pode ser encontrado em todos os lugares, pois vive na camada aquosa de musgos e líquenes de todo o planeta.

Esse é o tardígrado, também conhecido como “urso d’água” por sua maneira particular de andar semelhante ao desses potentes mamíferos. O tardígrado é um dos micro-animais mais fascinantes da Terra e, toda vez que é descoberto algo novo sobre o seu genoma, aparece nas revistas científicas mais prestigiadas. Mas o que esse animal tem para capturar toda a atenção da comunidade científica?






O tardígrado tem um gene único que o protege de radiações nocivas, pode sobreviver mais de 10 anos sem água, tolera temperaturas extremas (maiores que 100 graus Celsius a temperaturas inferiores a 196 graus Celsius abaixo de zero), suporta pressões seis mil vezes superiores à atmosférica e também podem suportar uma temporada no espaço exterior. A Agência Espacial Europeia, a ESA, e a da Rússia, a Roscosmos, em 2007, enviaram a sonda Foton M3 para o espaço com um grupo de tardígrados. E as criaturas não só não morreram, mas mantiveram sua capacidade reprodutiva intacta. Desde então, eles são reconhecidos como o animal mais resistente do planeta.

Sobrevive 30 anos congelado

Em 2016, cientistas do National Polar Research Institute (NIPR) do Japão descobriram que um tardígrado havia sobrevivido depois de ter sido congelado há mais de 30 anos no polo sul. A descoberta, além de aumentar a expectativa para esta criatura, poderia ter implicações futuras para os seres humanos. Para sobreviver ao congelamento, os tardígrados entram no estado de energia suspensa conhecida como criptobiose, um processo no qual eles reduzem ou interrompem todos os processos metabólicos até que as condições voltem ao normal.
Essa estratégia natural dos tardígrados compartilha a essência do sonho de Walt Disney. O criador de animação mais famoso da história estava interessado em criogenização (interesse que fez crescer a falsa lenda de que o corpo dele estaria congelado), a preservação a baixas temperaturas de corpos que a medicina atual não pode mais manter vivos, com o propósito de tratá-los e revivê-los no futuro. Os pesquisadores do NIPR acreditam que o estudo dos tardígrados nos ajudará a saber mais sobre os processos criptobióticos.

Todas essas descobertas contribuem para exaltar essa criatura enigmática e reforçar uma ótima questão: como o tardígrado continua vivo? Em busca de explicações racionais para esses “superpoderes”, várias universidades se propuseram a realizar estudos sobre essa criatura. Essa busca ao tesouro levou a estudos com hipóteses que se contradizem. Em 2015, a Universidade da Carolina do Norte sequenciou o genoma de um tardígrado pela primeira vez e teve a impressão de ter encontrado evidências de sua capacidade de transmitir genes horizontalmente, ou seja, adquirir genes oriundos de outras espécies. Meses depois a universidade teve que negar seu estudo porque descobriram que tinha sido uma contaminação bacteriana das amostras.

Um gene de defesa contra raios-X

Em setembro de 2016 um estudo da Universidade de Tóquio que foi publicado no periódico científico Nature procurava fornecer um entendimento melhor sobre este micro-animal. A equipe do pesquisador Takekazu Kunieda descobriu em Ramazzottius variornatus (uma das espécies mais resistentes do urso d’água) um gene que só existe em tardígrados e que poderia ser o responsável pela maior resistência observada na espécie.



Imagem de um tardígrado em estado ativo. (Créditos da imagem: Tanaka S/Sagara H/Kunieda).


Trata-se da Dsup, uma proteína protetora que liga e envolve o DNA do tardígrado como um cobertor para evitar danos às células. Os pesquisadores descobriram que essa proteína atua como um escudo contra a radiação de raios-X. Além disso, ao aplicá-la às células humanas cultivadas em laboratório, eles descobriram que essas células receberam até 40% menos danos devido àquele tipo de radiação.
Os cientistas estão tentando construir artificialmente células humanas que poderão produzir a Dsup. O objetivo é aplicar o estudo do genoma do animal mais resistente do planeta na busca de curas ou soluções para o ser humano. Essa última descoberta poderia proteger, em parte, as células de pacientes com câncer submetidos à radioterapia.
Esse é apenas um exemplo de tudo o que podemos aprender com um micro-animal que depois de congelado a 80 graus abaixo de zero por 10 anos, só precisa de 20 minutos para começar a caminhar novamente após o descongelamento. Uma criatura que, desde que apareceu na Terra há cerca de 500 milhões de anos, sobreviveu a cinco extinções em massa.

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