sexta-feira, 19 de abril de 2013

DICA DE LEITURA: Girassol: uma opção para a diversificação no sistema de rotação e produção de biocombustíveis


O girassol (Helianthus annuus L.) é uma cultura versátil, com inúmeras opções de uso e que pode ter o mercado ampliado pela sua utilização como matéria-prima para biocombustível. Os pesquisadores da Embrapa Soja, Regina Maria Villas Bôas de Campos Leite e César de Castro, falam sobre o sistema de produção do girassol, manejo de plantas daninhas, pragas e adubação, entre outros itens importantes na condução da cultura.

Regina Campos Leite é Mestre em Proteção de Plantas e Doutora em Fitopatologia. Trabalha desde 1994 na Embrapa Soja, de Londrina, PR. Atualmente pesquisa a caracterização de patógenos; identificação de fontes de resistência às principais doenças, epidemiologia e manejo de doenças da cultura do girassol.

César de Castro é Doutor em Fertilidade dos Solos e Nutrição Mineral de Plantas e pesquisador da Embrapa desde 1989. Atualmente trabalha com o manejo de adubação e nutrição mineral das culturas de girassol e soja.

O forte aumento no valor do petróleo e a busca de combustível renovável podem ter um impacto positivo na cultura do girassol para uso como biocombustível. Para os pesquisadores da Embrapa Soja, Regina Campos Leite e César de Castro, o girassol é uma opção de diversificação nos sistemas de rotação e sucessão de culturas nas regiões produtoras de grãos. As perspectivas do crescimento da área cultivada com girassol no Brasil são bastante favoráveis, visando atender o mercado de óleos comestíveis nobres, confeitaria, alimentação de pássaros, produção de silagem, farelo e torta para alimentação animal, produção ornamental, bem como a possibilidade de exportação de grãos. Além disso, devido ao alto teor de óleo no grão (38% a 50%), o girassol desponta como uma nova opção para a produção de biocombustíveis.

Para os pesquisadores da Embrapa Soja, diante da crescente busca de novas alternativas à matriz energética, atualmente baseada no uso do petróleo, têm sido ampliados estudos e iniciativas públicas e privadas direcionados ao processamento industrial do óleo bruto de girassol, visando à produção de biodiesel. Vale lembrar que, segundo normas do Governo Federal, o Brasil deverá já em 2008 adicionar 2% de biodiesel no diesel de petróleo. Essa quantidade representa em torno de 800 milhões de litros de biodiesel, que deverão ser produzidos para atender a demanda. Entre outras culturas como a soja, o dendê, a canola e a mamona, o girassol também vem despertando grande interesse para essa utilização. "Mesmo não havendo comprovações científicas nos aspectos mecânicos e ambientais, tem-se constatado o uso de óleo bruto de girassol, obtido por meio de esmagamento de grãos e filtragem, como combustível vegetal, sobretudo em propriedades rurais, diretamente nas máquinas agrícolas", comentam.

Regina Campos Leite considera que alguns aspectos contam a favor do uso do girassol na produção de biocombustíveis, pois devido ao alto teor de óleo na semente, é possível efetuar a extração com maior facilidade e menor custo, inclusive com o uso de prensas mecânicas, dispensando o condicionamento térmico prévio. O girassol pode ser cultivado antecipando-se à cultura principal, em algumas condições e, em outras, pode ser semeado na safrinha, substituindo, parcialmente, o milho ou o sorgo. Segundo ela, devido à maior tolerância ao estresse hídrico, o girassol pode se constituir em excelente opção para o Centro-Oeste brasileiro. Além de abrir nova perspectiva de cultivo, também permite romper o ciclo gramínea/ leguminosa, com ganhos agronômicos no sistema.

Na visão dos pesquisadores, ao longo dos próximos anos, será estratégico aumentar a oferta global de óleos, permitindo que o mercado de óleos comestíveis seja reservado para aqueles nutricionalmente mais adequados, com elevado teor de ácidos graxos poli-insaturados, como os de girassol e canola, enquanto outros, de soja ou palmáceas, possam ser dirigidos para o mercado de energia. Essa política somente terá sucesso com a redução do preço do óleo de girassol ao consumidor, o que, por sua vez, depende da expansão da cultura, além de ampla divulgação sobre suas características nutricionais ao mercado consumidor.

A Argentina é historicamente referência como país produtor de girassol no Mercosul e no Brasil existem cultivares de alto rendimento de grão e óleo para produção que são competitivas com o girassol argentino. Quanto a essa questão, Regina Campos Leite explica que existem cultivares de girassol que são variedades e outras são híbridos. "De um modo geral, os híbridos têm um potencial de produção maior que as variedades. Por outro lado, o custo da semente híbrida é mais elevado".


Melhoramento genético


A partir de 1989, a Embrapa Soja estabeleceu diversas linhas de pesquisa com girassol, incluindo o melhoramento genético. Este tem por objetivo a introdução e avaliação de genótipos em regiões produtoras e/ou potenciais, bem como a obtenção de populações melhoradas, linhagens e híbridos, visando alto potencial de rendimento, resistentes às principais doenças, ampla adaptabilidade, com alto teor de óleo e com diferentes ciclos para integrarem harmoniosamente os sistemas de produção nas diferentes regiões. Dessa forma, a Instituição tem se preocupado não só com o desenvolvimento de híbridos como também de variedades produtivas para atender mais diretamente à agricultura familiar. Observando o potencial de mercado de floricultura associado à beleza do girassol, em 1996, a Embrapa criou uma linha de pesquisa especial para o desenvolvimento de girassol ornamental.

Regina comenta que existem diversas empresas brasileiras e outras estrangeiras (principalmente argentinas), já estabelecidas no Brasil, que comercializam sementes de cultivares de girassol com bons rendimentos de grão e óleo. "Cabe salientar que essas cultivares já foram amplamente testadas no país, na Rede de Ensaios de Avaliação de Genótipos de Girassol, coordenada pela Embrapa Soja. Desta forma, existe disponibilidade de sementes de variedades ou de híbridos de girassol, produzidas no Brasil ou na Argentina, que atendem à demanda dos produtores brasileiros" reforça a pesquisadora.

Quanto à produtividade/custo x competitividade do girassol em relação à cultura da soja, principalmente variedades transgênicas, César de Castro considera que a versatilidade do girassol pode ser uma vantagem, quando comparada à soja. "O girassol é, de modo geral, cultivado em época distinta da cultura da soja convencional ou daquela resistente ao glifosato, em cultivo anterior (semeadura antecipada na região Sul do Brasil) ou subseqüente (safrinha na região dos Cerrados). Mesmo assim, em algumas regiões, o girassol pode ser cultivado numa época em que haveria sobreposição parcial de ciclo com a soja ou com o milho, como por exemplo, em algumas regiões do Paraná, onde o girassol pode ser semeado em setembro. Assim, a competividade será vantajosa ou não, em função dos preços das commodities, que não são determinadas internamente no País".


Para ele, outro aspecto a ser considerado é a possibilidade de produção de óleo na propriedade, para consumo como biocombustível. Ou seja, o agricultor pode reservar parte da lavoura para produzir oleaginosas, que são processadas isoladamente ou em conjunto com outros produtores, visando a produção do seu próprio combustível. Neste caso, a competividade será analisada em função da produção de combustível e seus co-produtos, de modo a agregar valor à produção.

Os pesquisadores da Embrapa informam que estão sendo estudadas espécies resistentes a herbicidas, mas ainda não existem variedades que apresentem essas características disponíveis para o produtor brasileiro. Regina Campos Leite explica que em 1998, foram descobertos biótipos de girassol resistentes aos herbicidas inibidores da enzima acetolactato sintetase (ALS), em uma população do girassol silvestre (H. annuus L. silvestre) em campos de soja, no Estado de Kansas, EUA, tratados com imazethapyr durante sete anos consecutivos. "Os herbicidas inibidores de ALS, incluindo as imidazolinonas e as sulfoniluréias, são muito eficientes no controle das principais plantas daninhas dicotiledôneas, sendo largamente utilizados para esse fim em outras culturas, como soja e milho. Espécies resistentes aos herbicidas inibidores de ALS apresentam mutação de ponto em genes que codificam essa enzima, reduzindo a sua sensibilidade aos herbicidas. Portanto, não são transgênicos. Esses materiais estão em fase de estudo e ainda não disponíveis" reforça a pesquisadora.


Regiões x produção


Muitos produtores ainda têm dúvidas quanto às regiões mais adequadas para a produção de girassol, considerando o potencial produtivo da cultura. Os pesquisadores explicam que o girassol desenvolve-se bem na maioria dos solos agricultáveis, já que é produzido nos cinco continentes. Por isso a cultura pode ser cultivada praticamente em todo o território nacional. Atualmente ele é explorado comercialmente principalmente nos estados de Goiás, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais. Além disso, existem estudos de empresas oficiais de Pesquisa e mesmo de agricultores, mostrando que é uma cultura com expectativa de sucesso também em Roraima, onde o ciclo é de apenas 75 a 80 dias, enquanto nas demais é de cerca de 110 a 120 dias. O Nordeste brasileiro é outra região que vem testando o girassol, com grandes possibilidades de sucesso. "Em função da possibilidade de se cultivar o girassol na maior parte dos Estados brasileiros e pelo fato de que o Brasil é um dos poucos países com disponibilidade de terras agricultáveis, a cultura tem grande perspectiva de expansão. Assim, a principal perspectiva para o girassol é o aumento da área de cultivo, não só nos Cerrados como nas demais regiões agrícolas".

César de Castro comenta ainda que dependendo do local, o que varia é a época de semeadura. O girassol é uma cultura que se adapta bem ao cultivo como primeira safra no Rio Grande do Sul e em condições de safrinha no Centro-Oeste, conta com um mercado comprador, tem uma rentabilidade razoável, e, de modo geral, melhora o solo para a cultura sucessora. "O girassol permite que o produtor diversifique sua produção, criando mais uma opção de renda e abrindo espaço na rotina de seu sistema produtivo. Na prática, o girassol pode melhorar o manejo de pragas e de doenças, além de beneficiar o perfil do solo pelo aprofundamento do sistema radicular. Em média, a cultura deixa cerca de 6,0 toneladas de matéria seca por hectare, que vai ser transformada em matéria orgânica e ser aproveitada pela cultura sucessora. A planta do girassol é reconhecida como benéfica à maioria das culturas subseqüentes, o que está comumente associado à reciclagem de nutrientes".

Com potencial produtivo para todas as regiões agrícolas brasileiras, o girassol foi adotado como símbolo da cidade de Palmas, no Tocantins, isso aconteceu porque o Cerrado desponta como uma região promissora para a cultura. Para a pesquisadora da Embrapa, nessa região, um aspecto importante para obtenção de altas produtividades, além da escolha do melhor genótipo, adubação, etc., está relacionado à implantação das lavouras nas épocas indicadas pelo zoneamento agroclimático do girassol, que define as épocas de semeadura com menor risco de déficit hídrico à exploração da cultura (Ver quadro).


Épocas adequadas para o plantio do girassol

Com base na experiência adquirida junto a produtores rurais e pelos resultados de pesquisa acumulados, Regina Campos Leite e César de Castro indicam como épocas adequadas para a semeadura do girassol no Brasil:
No Rio Grande do Sul, a cultura pode ser cultivada entre os meses de julho a agosto (período de inverno-primavera), principalmente pelas suas características de tolerância a baixas temperaturas na fase inicial do seu desenvolvimento.
No Paraná e sul dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, existe a possibilidade de semeadura em duas épocas, nos meses de agosto a setembro, aproveitando o início das chuvas e, de janeiro a fevereiro, no final delas.
Na região central do Brasil, caracterizada por invernos menos rigorosos, porém mais secos, o cultivo do girassol ocorre principalmente como segundo cultivo, de fevereiro a início de março, pela sua capacidade de desenvolvimento radicular e mecanismos de tolerância a estresses hídricos.
Já nos cerrados do Estado de Roraima, a época de semeadura é muito estreita, estabelecendo-se do final de maio a meados de junho.
Em resumo, a época ideal de semeadura do girassol será determinada pela disponibilidade hídrica e pela temperatura características de cada região.

A temperatura tem influência no peso final do grão e no número de grãos por capítulo. Por isso todos os híbridos e variedades de girassol cultivados no Brasil são inicialmente avaliados na "Rede de ensaios de genótipos de girassol", coordenada pela Embrapa Soja, em vários Estados e condições edafoclimáticas. Assim, a partir do momento que o material é aprovado, isso quer dizer que o mesmo é adaptado às condições das respectivas regiões em que o mesmo foi testado. Atualmente, existem em torno de 20 híbridos e 5 variedades registradas para cultivo no Brasil, além de diversos outros materiais já testados e passíveis de serem comercializados. "Cabe salientar que, nas condições de safrinha, a principal influência no peso final e no número de grãos por capítulo é a deficiência de boro e o déficit hídrico, que afeta o girassol principalmente nas semeaduras mais tardias", comenta César.


Suscetibilidade a doenças


Nas regiões de temperaturas amenas, tem se verificado a incidência de Sclerotinia sclerotiorum na cultura da soja, sendo necessária rotação de culturas com gramíneas (aveia/milho) para minimizar os danos no decorrer do tempo.

Quanto ao risco da cultura do girassol para o aumento dessa doença quanto utilizando em sistema de rotação, Regina Campos Leite considera que, quando forem verificadas epidemias de mofo branco na cultura da soja ou do feijão, em regiões de condições climáticas amenas, como as chapadas dos cerrados, deve-se evitar o cultivo de safrinha com outras espécies suscetíveis ao fungo, como o girassol e a canola.

"Este fungo é considerado um dos patógenos mais importantes no mundo e está distribuído em todas as regiões produtoras, sejam elas temperadas, subtropicais ou tropicais. S. sclerotiorum é um fungo polífago, tendo como hospedeiros plantas de 75 famílias, 278 gêneros e 408 espécies. Entre eles, destacam-se soja, girassol, canola, ervilha, feijão, alfafa, fumo, tomate e batata, entre outras culturas. Assim, por ser um hospedeiro suscetível, o girassol não deve ser cultivado em áreas com histórico da doença", explica.

Regina Campos Leite considera, entre outras práticas culturais recomendadas, a rotação de culturas fundamental para o manejo da doença. Em áreas onde ocorreram epidemias recentes, deve-se evitar o cultivo em sucessão com espécies suscetíveis a S. sclerotiorum, retornando com esses hospedeiros na mesma área somente após, pelo menos, quatro anos. "A intercalação com culturas resistentes a esse fungo, como as gramíneas (como milho, aveia branca ou trigo), serve para dar tempo para a degradação natural dos escleródios por meio de seus inimigos naturais".

Segundo a pesquisadora, uma medida fundamental para prevenir a ocorrência de doenças causadas por S. sclerotiorum é reduzir ao máximo os períodos de alta umidade e baixa temperatura na cultura. Para isso, a escolha da época de semeadura é fundamental. "Para reduzir as chances de ocorrência de podridão de capítulos de girassol, é imperativo evitar a semeadura em época que resulte na floração em períodos de baixa temperatura, como ocorre no outono-inverno na Região Sul do Brasil. No Paraná, o cultivo de girassol, após a colheita da safra de verão, está limitado a regiões onde não ocorram baixas temperaturas e chuvas no outono-inverno; nessa condição, a época de semeadura não deve ultrapassar meados de março e deve-se optar por genótipos de ciclo precoce (100 dias entre a emergência e a colheita), para evitar baixas temperaturas no final do ciclo". Regina Campos Leite salienta que a Embrapa Soja está realizando estudos de zoneamento climático para o cultivo do girassol em safrinha no Paraná, de modo a proceder à correta indicação sobre a época de semeadura de menor favorabilidade climática para a doença, nas diferentes regiões.


Sclerotinia sclerotiorum e o plantio direto


Em alguns países, como na Argentina, os restos culturais das lavouras com elevada incidência de Sclerotinia são queimados reduzindo o aporte de matéria orgânica (carbono) que é o principal beneficio do Plantio Direto. Para César de Castro, além de um pecado, é um grande erro estratégico queimar a palhada de girassol, ressaltando que um hectare de cultura, quando bem conduzida, produz em torno de 6,0 toneladas de palhada. Desta, aproximadamente a 50 % da palhada possui relação C/N entre 12 a 29, que é rapidamente decomposta. Segundo ele, a ciclagem de nutrientes beneficia às culturas em sucessão, disponíveis em grande quantidade nos restos culturais do girassol. O restante, com maior relação C/N e menor taxa de decomposição, contribui com a cobertura do solo por maior parte do tempo. "O girassol apresenta duas características interessantes para o cultivo em sistemas de rotação em semeadura direta, que são a formação de palhada e o favorecimento das culturas em sucessão pela rápida disponibilização de nutrientes" reforça.

Para o pesquisador, no processo de ciclagem, destacam-se o potássio, o cálcio e o boro, que apresentam taxas de exportação reduzidas. Por exemplo, para o potássio, a demanda para a produção de uma tonelada de grãos é elevada, em torno de 142 kg de K na parte aérea. Contudo, a quantidade de K que é exportada através dos aquênios na colheita é baixa, alcançando, em torno de 12 kg de K2O por tonelada produzida de grão. O restante contido na palhada ficará a disposição das culturas em sucessão.

A orientação da pesquisadora Regina Campos Leite para a redução de ocorrência de podridão de Sclerotinia no girassol, é adotar um programa integrado de medidas, que incluem diversas práticas culturais. "Uma medida fundamental é a escolha da época de semeadura. Considerando as diferentes doenças e as exigências da planta, a época indicada para a semeadura do girassol varia de acordo com as diferentes regiões edafoclimáticas. Cabe salientar que a indicação da época de semeadura deve ser balizada em estudos de zoneamento agroclimático, de modo a definir a época que permita satisfazer as exigências da planta, nas diferentes fases de desenvolvimento, e que desfavoreça a ocorrência de epifitias". Para ela, outro aspecto importante é a utilização de densidade de semeadura em torno de 40.000 a 45.000 plantas/ha. Como o patógeno é transmitido por sementes, é imperativo utilizar sementes sadias e de procedência conhecida. Além dessas medidas, ela salienta que o girassol deva ser incluído dentro de um sistema de rotação de culturas, retornando na mesma área somente após, pelo menos, quatro anos.

Outra doença que esta apresentando elevada incidência na soja é podridão negra da raiz (Macrophomina phaseolina) e o girassol é hospedeiro desse fungo. Segundo Regina Campos Leite, na cultura do girassol, a doença tem como sintoma mais comum a desagregação dos tecidos da base da haste e das raízes, que apresentam coloração negra característica, em virtude da abundante produção de microescleródios do fungo, facilmente visível pela remoção da epiderme. As hastes severamente infectadas apresentam-se ocas e facilmente quebradiças, muito suscetíveis ao acamamento. A medula destruída apresenta o aspecto de discos empilhados. Os sintomas só aparecem a partir da floração, mesmo quando as plantas são infectadas nos estádios iniciais de desenvolvimento, mas não têm sido comumente observados.

"O controle da doença inclui o ajuste do pH do solo e da fertilização. Métodos de cultivo como remover ou destruir restos de cultura, controlar plantas daninhas, utilizar sementes sadias, utilizar rotação de culturas e evitar danos na base das plantas são recomendados. Práticas que reduzem a exposição das plantas a altas temperaturas e estresse hídrico, como o uso de cultivares precoces e a semeadura no início da estação chuvosa, podem também ser eficientes no controle de M. phaseolina. Apesar disso, não se tem verificado plantas de girassol com ataque desse fungo, mesmo em áreas de plantio direto", salienta Regina.


Plantio e colheita


A semeadura de girassol pode ser feita com as mesmas máquinas que semeiam soja ou milho. No entanto, deve ser dada atenção especial aos mecanismos dosadores de sementes. A distribuição qualitativa e quantitativa de sementes de girassol deve ser eficiente para conseguir deposição uniforme no sulco e na profundidade desejada. Assim, a semeadura pode ser efetuada por sistemas dosadores mecânicos ou pneumáticos. Segundo César de Castro, para o sistema dosador de discos, de uso mais comum pela maioria dos agricultores, atenção especial deve ser dada ao ajuste do calibre das sementes e o tamanho dos alvéolos nos discos. "Convém salientar que a operação de semeadura é um momento delicado, em função da pequena quantidade de sementes necessária por hectare, em torno de 3 a 4 kg. Assim, o ajuste da semeadora é fundamental para se obter uma lavoura bem instalada, que é o primeiro passo para o êxito da cultura" reforça.

A colheita de girassol também pode ser efetuada com a plataforma de milho ou de soja modificada ou através de plataformas especiais para a cultura. Segundo o pesquisador, a modificação da plataforma de milho, preconizada pela Embrapa Soja, é simples e de fácil execução na própria fazenda, além do baixo custo. Como desvantagem, o produtor de girassol fica amarrado ao mesmo espaçamento adotado para a cultura do milho. Com modificação da plataforma de soja, não existiria esse problema e o agricultor poderia cultivar o girassol em diferentes espaçamentos. "Hoje já existem kits disponíveis para adaptar os diferentes tipos de plataforma de soja existentes no mercado", informa.

O girassol é um dos cultivos mais propensos ao ataque de pássaros, que originam, em algumas regiões, perdas bastante elevadas. Determinadas características da planta de girassol, como a exposição dos aquênios (grãos) em local elevado, onde o pássaro se sente menos suscetível ao ataque de predadores, ou a facilidade de remoção dos grãos, principalmente os maiores que estão localizados na periferia do capítulo, potencializam um possível dano produzido pelos pássaros. Para combater o problema, os pesquisadores recomendam que a colheita seja feita antecipadamente e o mais rapidamente possível.


Adubação


Para César de Castro, a quantidade de fertilizantes necessários para o cultivo do girassol será definida em função dos teores dos nutrientes no solo, quantificados através da análise do solo. No entanto, mesmo em solos pobres, que exigem, conseqüentemente, maiores quantidades de fertilizantes, não têm sido observado problemas de efeito salino. "De modo geral, as quantidades de nitrogênio, fósforo e de potássio variam de 40 a 60 kg/ha de N, 40 a 80 kg/ha de P2O5 e 40 a 80 kg/ha de K2O. No entanto, em áreas com boas produtividades de soja ou de milho, que são bons indicadores da fertilidade do solo, as quantidades de fertilizantes são menores. Cabe lembrar que, em função do profundo sistema radicular, as plantas de girassol conseguem explorar grande volume de solo, absorvendo nutrientes que já estavam fora do alcance de outras culturas, como, por exemplo, o potássio" ressalta.

Quanto à aplicação suplementar do micronutrientes, como o boro, o pesquisador afirma que essa necessidade também será definida pelos teores existentes no solo. "À forma mais adequada de se aplicar o nutriente é via solo, juntamente com a adubação de base, tendo em vista que, além dos mecanismos de absorção do nutriente pelas raízes, a aplicação no solo resolve o problema das culturas implantadas na mesma área, não somente a do girassol. Outra forma de suprir a necessidade desse nutriente é a sua aplicação juntamente com o dessecante". Castro comenta que essa operação conjunta tem diversas vantagens como: a mistura do dessecante e do ácido bórico não prejudica o controle de plantas de cobertura e de plantas daninhas; distribuição uniforme do B aplicado no solo; fornecimento eficiente de boro às plantas; o ácido bórico possui baixo custo em relação a outras fontes de boro; menor compactação e quebra de plantas, pela redução das operações mecanizadas durante o ciclo da cultura; e economia de tempo, trabalho e combustível. "A dosagem é determinada em função do teor existente no solo. Contudo, em solos arenosos as quantidades devem ser menores que as aplicadas em solos argilosos", complementa.


Controle de plantas daninhas


A orientação dos pesquisadores para o manejo de plantas daninhas no sistema de semeadura direta da cultura do girassol é de que o agricultor siga alguns procedimentos.

Em situações de alta infestação de espécies daninhas ou plantas de cobertura, aplicar herbicidas dessecantes sistêmicos (glyphosate ou glyphosate potássico), mantendo um intervalo de 18-20 dias entre a dessecação e a semeadura da cultura. No dia da semeadura, caso ocorra novo surto de espécies infestantes, executar uma segunda aplicação, podendo ser utilizadas doses menores de herbicidas dessecantes de contato (paraquat) ou mesmo sistêmicos (glyphosate ou glyphosate potássico). Logo após, semear o girassol e, em seguida, aplicar herbicidas pré-emergentes (alachlor ou trifluralina), capazes de controlar espécies daninhas gramíneas e dicotiledôneas no período inicial de desenvolvimento do girassol.

Em situações de baixa infestação, realizar a dessecação e, logo em seguida, semear o girassol, aplicando os herbicidas em pré-emergência da cultura como descrito anteriormente.


Pragas


As principais pragas que atacam o girassol, em diferentes épocas, são a vaquinha (Diabrotica speciosa), a lagarta preta (Chlosyne lacinia saundersii) e os percevejos (Nezara viridula, Piezodorus guildinii e Euschistus heros). Outros insetos, embora possuam potencial de dano à cultura, geralmente ocorrem em populações baixas e apenas ocasionalmente chegam a causar danos maiores. Neste grupo, podem ser citados o besouro do capítulo (Cyclocephala melanocephala), formigas, principalmente as saúvas (Atta spp.), e a lagarta rosca (Agrostis ipsilon).

Para Regina Campos Leite, o monitoramento periódico das lavouras é o primeiro passo para um controle eficiente de pragas na cultura de girassol, observando os focos de ataque que realmente justifiquem o seu controle e, nesses pontos, efetuar a aplicação de inseticidas.

Ela comenta que o girassol é suscetível aos nematóides do gênero Meloidogyne e pode apresentar formação de galhas nas raízes. Aparentemente, esse nematóide não causa danos expressivos à produção de girassol. Entretanto, a cultura não deve ser utilizada em área contaminada, visto que pode propiciar aumento na população do patógeno.


Armazenamento


Considerando a possibilidade das condições para a comercialização do grão não estarem atraentes para o produtor, é possível armazenar o grão na propriedade usando um sistema de silo-bolsa que, quando feito adequadamente, funciona muito bem no armazenamento do girassol. César de Castro reforça que, nesse caso, o produto deve ser armazenado com baixo teor de umidade. "Como nos Cerrados a cultura é colhida em condições de clima seco, o silo-bolsa é uma tecnologia apropriada. Nessas condições, pode ser armazenado por mais de um ano, como já ocorre na Argentina", finaliza. 

Para aumentar a difusão de conhecimento e os resultados de pesquisa, em outubro de 2005 a Embrapa lançou o Livro "Girassol no Brasil", que trata dos principais aspectos relacionados à cultura do girassol. O livro, com 641 páginas e aproximadamente 200 figuras, reúne 19 capítulos de 38 autores e pretende possibilitar o acesso às tecnologias, aos conhecimentos gerados e às experiências adquiridas pela Embrapa Soja e por diversas instituições parceiras, sobre a cultura do girassol.
Inicialmente, o livro apresenta a história da trajetória do girassol no mundo, sua chegada ao Brasil e as ações de pesquisas no País. Os aspectos de economia e mercado dão uma visão do seu posicionamento no agronegócio. As abordagens sobre os diferentes usos do girassol nas alimentações humana e animal e, mais recentemente, como fonte renovável de energia, mostram a potencialidade da cultura na geração de oportunidades sob o ponto de vista de sustentabilidade. Os conhecimentos teóricos e práticos relativos à ecofisiologia da planta, à genética e suas implicações no desenvolvimento de cultivares, às exigências nutricionais e às questões fitossanitárias, desde a semente até a colheita, remetem para a geração de tecnologias que dão suporte à produção.
O livro "Girassol no Brasil", que certamente é a publicação mais completa sobre a cultura já editada no Brasil, constitui-se num marco importante na história do girassol no País. Exemplares poderão ser adquiridos por R$ 70,00 no setor de publicações da Embrapa Soja pelo fone: (43) 3371-6119 ou pelo e-mail: vendas@cnpso.embrapa.br

Revista Plantio Direto, edição 93, maio/junho de 2006.



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